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Dos anos 70 à atualidade e Vice-Versa: BD de Nuno Amorim

Dos anos 70 à atualidade e Vice-Versa: BD de Nuno Amorim

 

Daniel Clowes num suplemento do Eightball #18 (Mar’97) intitulado “Modern Cartoonist” ironizava – penso eu, com os gringos nunca se sabe! – num texto sobre BD que de 15 em 15 anos há um novo fôlego na cena. Basicamente, é preciso que apareça uma nova geração que apreenda e aplique as revoluções realizadas pela geração anterior. Não haveria a “BD Alternativa” dos anos 90 se 15 anos antes não houvesse a “underground comix” e estes não existiriam sem a EC Comics e a revista Mad dos anos 50. Tudo bem, parece justo.
Na edição de 31 de Janeiro de 1973 do jornal &etc, Nuno Amorim (com uns 21 anitos), já trabalhava para o mundo editorial mais sofisticado em Portugal – as Edições Afrodite e a &etc – e num artigo sobre a sua pessoa admite a admiração por Moscoso. Mais tarde, numa situação tão rara como a de 1973 – ou seja, dar tempo de antena a um ilustrador – é entrevistado no livro Editor Contra – Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite (Montag; 2016) e assume mais uma vez as suas influências dos anos 70 – Moebius e Caza, são os autores referidos.
Seja em 1973 seja 2016, os nomes dos autores que ele refere pouco importarão para o público. O estatuto marginal da BD permanece inalterado ao longo destas décadas todas e Amorim, como muitos outros artistas da sua geração e posteriores, “brincou” à BD. Publicou alguns trabalhos, principalmente na seminal revista Visão (1975-76) mas também alguns fanzines e nas publicações das míticas editoras acima já referidas. Como nunca houve uma estrutura económica de subsistência na BD em Portugal, ele parou de fazer BD e foi para outros poisos. Arquitecto de formação, foi director de arte em varias agências de publicidade internacionais em Lisboa, e posteriormente integrou os quadros da RTP, onde foi designer gráfico, realizador e responsável pelo departamento gráfico. Em 1991 foi co-fundador da produtora de cinema de animação Animais, onde é realizador e produtor de curtas metragens e séries de animação. Trabalhou e continua a trabalhar em imagem, área criativa pouco apreciada em Portugal. Um trabalho sujo mas que alguém tem de o fazer!
A sua criação de BD ficou fechada na década de 70 com os pesos telúricos das influências da altura. Amorim e a malta da Visão tiveram quase todos o mesmo destino. Partiram para outra e foram esquecidos. Um caso ou outro voltou à BD, um ou outro ainda fizeram alguma obra em BD. Como profetizava Clowes, 15 anos depois aparecia uma nova geração de autores a baralhar as cartas – ligados aos zines e às revistas Lx Comics e Quadrado. Mas ao contrário que dizia Clowes, não parece que essa nova geração e as futuras tenham apreendido algo da anterior ou a tomado por base.
A verdade é que em Portugal apesar das suas inúmeras Bedetecas ou livros de História, os autores de BD não ligam ao passado. Empanturrados de hiper-realidade com tons de néon, mutações afrofuturistas, glitches cyberpunks, erotismo digital, risografia a brilhar pós-fluorescência, rocócós bling bling basta reeditar as BDs dos anos 70 como fiz com a antologia Revisão : Bandas Desenhadas dos anos 70 (Chili Com Carne; 2016) que lhes cai tudo em cima! Pá! Afinal os cotas já tinham feito cenas mamadas, meu!
Se esta, tão apropriada, exposição na Mundo Fantasma se realizar com o título Dos anos 70 à actualidade e Vice-Versa, a Fita de Moebius completa-se. Se a Mundo Fantasma editar a BD inédita “Stoned” nas suas exemplares publicações impressas em Risografia então a Fita de Moebius, ironicamente, estreita-se.
Marcos Farrajota – Lisboa, 15/08/2018
(texto de apresentação da exposição).

Revisão – Bandas-Desenhadas dos anos 70

Revisão - Bandas-Desenhadas dos anos 70

Um revisitação da boa BD dos anos 70, onde o editor (Marcos Farrajota) foi buscar o âmago à mítica Visão (assinalando assim os seus quarenta anos) e aos seus melhores autores (menos Mesquita). Mas também ao Estripador (Relvas, que não esteve na Visão), ao Evaristo e ao & Etc.

Fantásticas Aventuras de Godofredo Leite Fresco

Fantásticas Aventuras de Godofredo Leite Fresco

O Pau de Canela era o jornal oficial do programa da RTP – Arroz Doce – apresentado por Júlio Isidro. Durante 18 sessões deste programa diversos autores fizeram, ao vivo e no programa, uma prancha de BD em regime de “cadavre exquis” em que cada um deixava, na última vinheta”  uma situação para ser resolvida pelo próximo. As dezoito pranchas forma publicado depois no jornal.

Os programas podem ser no arquivo da RTP: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/arroz-doce

BD Portuguesa e Cinema de Animação

BD Portuguesa e Cinema de Animação

Uma das primeiras exposições organizadas pelo Clube Português de Banda Desenhada junta autores das décadas de 40,50 e 60 com as novas revelações da BD pós Abril (essencialmente os da Visão e Ferando Relvas). E ainda inclui uma serie de nomes reconhecíveis mas que na altura não tinham ainda atingido os seus vinte anos.