Em torno do sobrado e do seu agrupamento em “montado” o Javali Mágico projectou e produziu uma publicação em BDS onde quatro escritores consagrados conceberam outras tantas narrativas para quatro desenhadores consagrados. O livro resultante foi distribuído essencialmente pelo conselho de Odemira e foi também publicado também em edição digital e gratuita.
Texto de abertura e coordenação de Hugo Tornelo e Rita Gonzalez.
Não sendo um livro de BD é um livro com a participação de inúmeros autores que também se dedicam à BD. Poesia e Ilustração a celebrar os quarenta anos do 25 de Abril.
40 das principais canções de Sérgio Godinho, escolhidas pelo próprio e iluminadas por outros tantos ilustradores: de José Brandão a Henrique Cayatte, de Sara Maia a João Maio Pinto, de Cristina Valadas a Jorge Colombo, de Pedro Proença a Teresa Lima, de João Fazenda a André Carrilho, enfim muitas gerações e quase todos os estilos.
Sérgio Godinho, no prefácio: «Ilustrada a música destas quarenta maneiras, percebo agora melhor o que dizem as palavras. A música pura diz tudo sem mostrar nada, e só depois as frases da palavra lhe dão percursos, caras e intenções. Uma canção pronta é indiciada apenas como versão primeira de uma que se irá seguir. Por isso gosto tanto da ideia de versão, onde de repente fica provada a profunda essência plástica de uma melodia e de um verso. É, no limite, uma história sem fim, que se desdobra e se desfia, como o infinito sempre à mão. No caso, a música semeou-se em manchas e riscos, e eu fui descobrindo, atónito, as novas caríssimas versões das minhas inesperadas canções. Sinto-me brindado, e orgulhoso por ser o veículo em que se mostra o ardor criativo da ilustração portuguesa. Em plurais viagens, quarenta porque não há lugar para mais.»
João Paulo Cotrim, no prefácio: «As boas canções são pedras atiradas à superfície dos nossos dias: perturbam a falsa tranquilidade do reflexo espelhado de céu, mergulham até tocarem os nervos de coral por onde nadam os nossos desejos e os medos de muitas cores, inauguram assim o tsunami que nos fará tremer muitos anos depois. As boas canções são intemporais, mesmo acabadas de gravar têm a maturidade de séculos e falam-nos ao ouvido do único tempo que importa: o presente. Quarenta anos ou mais se podem encontrar em cada canção de Sérgio Godinho, os minutos todos enrolados num novelo, que ora fica na garganta ora nos desce aos punhos, pedras que desatam a série de ondas concêntricas da memória que ainda agora está por nascer. Neste projecto melómano, a data fez-se apenas pretexto, ajudou a encontrar o número exacto de olhares a convocar. Os ilustradores também caminham sobre fina camada de gelo, em busca de lugar seguro onde pôr o pé de modo a seguir em frente, vendo para além do nevoeiro, ou seja, iluminando. No íntimo destas letras, e para além das ideias, sobra um caleidoscópio de imagens: um pequeno movimento, suscita outro olhar, e logo nova imagem.
(textos de apresentação da exposição que esteve patente até 29 de Abril de 2012).