Companheiros da Penumbra – exposição de Nunsky

Companheiros da Penumbra - exposição de Nunsky

No lançamento da Bedeteca e de um pretendido novo folgo para a Galeria, a chamada foi para Nunsky e a sua obra que tanto tem a ver com o Porto e ainda por cima evoca o saudoso Salão Internacional de BD do Porto e a sua encarnação no Mercado Ferreira Borges.

O texto de apresentação da exposição foi da autoria de David Pontes:

Há um tempo em que o mundo parece um lugar aberto a todas os sonhos e possibilidades e, simultaneamente, o destino onde os nossos medos moram, à espera de se tornarem a realidade. Um tempo em que forjamos carácter, conjugamos forças, exorcizamos destinos marcados. Procuramos companhia para a viagem, naqueles com quem podemos partilhar códigos indecifráveis para a maioria e uma imparável vontade de não nos vermos diluídos na multidão. Esse tempo chama-se juventude e é nela, que de uma forma empolgante, Nunsky nos leva a mergulhar no seu “Companheiros da Penumbra”.

É desse tempo, em que podíamos ser músicos, editores, organizadores de espectáculos, estilistas, realizadores de cinema, autores de banda desenhada, sem ter de gastar uma vida em cada uma dessas vocações, que nos fala esta banda desenhada ímpar. Anos feitos de conspirações à mesa do café, sessões de cinema em casa de amigos, palcos improvisados em casas de alterne, incursões ao Portugal “real”, excessos e amores suspirados, conquistas e derrotas amargas. Mesmo para quem não se entregou às trevas da nação gótica, mas abraçou uma qualquer tribo urbana, “Companheiros da Penumbra” é um local perfeitamente reconhecível, nostalgicamente familiar.

Até porque esta é uma viagem a um Porto muito diferente da cidade conquistada pelo turismo de hoje. Um tempo de passagem em que especialmente a Sé e a Ribeira, mas também os centros comerciais decadentes, encontravam novos habitantes nas hordas de juventude que iam enchendo bares e discotecas, onde antes havia armazéns e estabelecimentos comerciais. Nessa altura, a cidade, com todas as suas promessas adiadas de cosmopolitismo, pertencia-lhes, era o lugar onde se erguia alto a bandeira do direito à diferença.

Nunsky consegue unir isto tudo com um traço distintivo e sólido e com uma banda sonora irrepreensível, que faz de “Companheiros da Penumbra” um excelente parceiro para regressar a esses tempos negros e brilhantes.

“All we ever wanted was everything
All we ever got was cold”

Bauhaus

David Pontes