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Senhora Exposição – fase 1

Senhora Exposição

texto de apresentação:

A Senhora Exposição reúne trabalhos de artistas portuguesas, ligadas à ilustração e/ou BD, e que têm vindo a revelar um traço próprio e uma identidade singular dentro do meio artístico e cultural em que desenvolvem o seu trabalho. Mantendo uma liberdade criativa no seu modo de expressão e fazendo dela uma atividade regular, quer em exposições, quer em publicações, as autoras têm vindo a constituir um panorama cada vez mais alargado de mulheres determinadas a mostrarem o que fazem e a fazê-lo bem, esta é assim uma exposição de encontro e de reconhecimento.
Haverá dois momentos Senhora Exposição, sendo este primeiro de 26 de Out a 3 de Dez com: Inês Ferreira, Leonor Hungria, Marta Teives, Patrícia Guimarães, Silvia Rodrigues e Sofia Neto.
Curadoria: Madame Zine, 2019

Inimigo Exposto de Nuno Saraiva e Diário Rasgado 2018 de Marco Mendes

Inimigo Exposto de Nuno Saraiva e Diário Rasgado 2018 de Marco Mendes

“A actualidade é um detonador do imaginário. É assim que eu uso os jornais.”, afirmou Enki Bilal, desenhador e argumentista, numa entrevista concedida em 2003 ao Liberátion (um jornal francês).  A relação entre a imprensa, a ilustração e/ou a banda desenhada, não é novidade, o que nestas duas exposições se propõe é descobrir que essa relação ainda está de pé, viva e actual. Jornais diferentes, ilustradores diferentes, distintas abordagens e temas, juntaram-se para ocupar um mesmo espaço a convite do ZineFestPt, um evento dedicado ao universo das edições e aos seus autores.

Exposição Inimigo Exposto, desenhos de Nuno Saraiva,

Nuno Saraiva trouxe um pouco de calor à silly season que foi o verão de 2018.

Com “Inimigo Exposto” o artista mostrou no Passevite (Anjos, Lisboa) os originais dos desenhos para o Inimigo Público, ao lado de alguns finais já editados no jornal. O ZineFestPt propôs ao Passevite um regresso a esta exposição, trazendo-a ao Porto. Em duas das paredes os desenhos deste ano publicados no suplemento Inimigo Público do Jornal Público. Numa outra, uma selecção entre centenas dos desenhos feitos entre 2003 e 2006.

Exposição Diário Rasgado 2018, com BD do Marco Mendes,

As pranchas diárias, em formato quadrado (duas vinhetas sobre outras duas), a cores, no Jornal de Notícias, surgem a partir de 3 de Junho de 2018, sob o título “Diário Rasgado”, já por ele usado antes num álbum. Estas tiras de banda desenhada perpassam reflexões circunstanciais, próprias do quotidiano, da vida do dia a dia. Deixando um rasto de ligação, entre simples momentos tomados como episódios singulares, com uma espécie de sabor incógnito, dão-nos vontade de continuar a acompanhar, pois há de tudo como na vida real acabando por ter ocasionalmente alguma relação com alguém que a lê, porque o mundo dos outros é também o nosso próprio, de alguma forma fazemos parte de uma realidade que tem tanto de diverso como de inúmeros aspectos comuns.

(texto de apresentação das exposições).

Dos anos 70 à atualidade e Vice-Versa: BD de Nuno Amorim

Dos anos 70 à atualidade e Vice-Versa: BD de Nuno Amorim

 

Daniel Clowes num suplemento do Eightball #18 (Mar’97) intitulado “Modern Cartoonist” ironizava – penso eu, com os gringos nunca se sabe! – num texto sobre BD que de 15 em 15 anos há um novo fôlego na cena. Basicamente, é preciso que apareça uma nova geração que apreenda e aplique as revoluções realizadas pela geração anterior. Não haveria a “BD Alternativa” dos anos 90 se 15 anos antes não houvesse a “underground comix” e estes não existiriam sem a EC Comics e a revista Mad dos anos 50. Tudo bem, parece justo.
Na edição de 31 de Janeiro de 1973 do jornal &etc, Nuno Amorim (com uns 21 anitos), já trabalhava para o mundo editorial mais sofisticado em Portugal – as Edições Afrodite e a &etc – e num artigo sobre a sua pessoa admite a admiração por Moscoso. Mais tarde, numa situação tão rara como a de 1973 – ou seja, dar tempo de antena a um ilustrador – é entrevistado no livro Editor Contra – Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite (Montag; 2016) e assume mais uma vez as suas influências dos anos 70 – Moebius e Caza, são os autores referidos.
Seja em 1973 seja 2016, os nomes dos autores que ele refere pouco importarão para o público. O estatuto marginal da BD permanece inalterado ao longo destas décadas todas e Amorim, como muitos outros artistas da sua geração e posteriores, “brincou” à BD. Publicou alguns trabalhos, principalmente na seminal revista Visão (1975-76) mas também alguns fanzines e nas publicações das míticas editoras acima já referidas. Como nunca houve uma estrutura económica de subsistência na BD em Portugal, ele parou de fazer BD e foi para outros poisos. Arquitecto de formação, foi director de arte em varias agências de publicidade internacionais em Lisboa, e posteriormente integrou os quadros da RTP, onde foi designer gráfico, realizador e responsável pelo departamento gráfico. Em 1991 foi co-fundador da produtora de cinema de animação Animais, onde é realizador e produtor de curtas metragens e séries de animação. Trabalhou e continua a trabalhar em imagem, área criativa pouco apreciada em Portugal. Um trabalho sujo mas que alguém tem de o fazer!
A sua criação de BD ficou fechada na década de 70 com os pesos telúricos das influências da altura. Amorim e a malta da Visão tiveram quase todos o mesmo destino. Partiram para outra e foram esquecidos. Um caso ou outro voltou à BD, um ou outro ainda fizeram alguma obra em BD. Como profetizava Clowes, 15 anos depois aparecia uma nova geração de autores a baralhar as cartas – ligados aos zines e às revistas Lx Comics e Quadrado. Mas ao contrário que dizia Clowes, não parece que essa nova geração e as futuras tenham apreendido algo da anterior ou a tomado por base.
A verdade é que em Portugal apesar das suas inúmeras Bedetecas ou livros de História, os autores de BD não ligam ao passado. Empanturrados de hiper-realidade com tons de néon, mutações afrofuturistas, glitches cyberpunks, erotismo digital, risografia a brilhar pós-fluorescência, rocócós bling bling basta reeditar as BDs dos anos 70 como fiz com a antologia Revisão : Bandas Desenhadas dos anos 70 (Chili Com Carne; 2016) que lhes cai tudo em cima! Pá! Afinal os cotas já tinham feito cenas mamadas, meu!
Se esta, tão apropriada, exposição na Mundo Fantasma se realizar com o título Dos anos 70 à actualidade e Vice-Versa, a Fita de Moebius completa-se. Se a Mundo Fantasma editar a BD inédita “Stoned” nas suas exemplares publicações impressas em Risografia então a Fita de Moebius, ironicamente, estreita-se.
Marcos Farrajota – Lisboa, 15/08/2018
(texto de apresentação da exposição).

Cicatriz: Exposição de Sofia Neto

Cicatriz: Exposição de Sofia Neto

Em mostra estarão as ilustrações originais que resultaram no livro de banda desenhada Cicatriz, de Sofia Neto.
Galhos e agulhas de pinheiro a estalar debaixo dos pés. Uma brisa salgada que se move entre troncos esguios. O chiar de metal enferrujado. Bolsos carregados de pinhões e cogumelos selvagens. Um agitar súbito de folhas e sombras irrequietas. Sensações familiares num lugar a que não pertence. Uma mulher atravessa um território estranho, esquecido, numa procura pontuada por encontros com aqueles que o habitam. O som distante de violência marca o ritmo de um percurso que se vai construindo passo a passo, orientado por esperança, medo e descoberta.
(texto de apresentação da exposição).

Matéria Escura – BD e Ilustração de Filipe Abranches

Matéria Escura - BD e Ilustração de Filipe Abranches

Matéria Escura

A expressão “matéria escura” nasce de um dos modelos vigentes da física para dar conta da matéria no universo, a sua massa, movimento, e expansão. Trata-se, portanto, acima de tudo, de um termo que ocupa a função daquilo que é ainda desconhecido ou das possibilidades efectivas de descrição, explicação e previsão. No fundo, mesmo que seja diferente da desusada teoria do éter, por estar agora ancorada em efeitos observáveis e mensuráveis, a matéria negra está ainda a ocupar um espaço de ignorância que se pretende ir apagando à medida que se fazem novas descobertas. H. P. Lovecraft tem aquela famosa frase de que “Vivemos numa ilha tranquila de ignorância no seio de mares negros de infinitude, e não está escrito que devamos viajar distantemente”, mas a atitude do escritor de weird fiction não era propriamente a da mente de um cientista, cujos passos são planeados e com o cuidado metódico que dita, logo à partida, a fortuna garantida. Garantida, pois um falhanço numa observação ou teoria é, em si mesmo, uma vitória também.

«Matéria escura», enquanto título de uma mostra da produção mais recente de Filipe Abranches, entre páginas de banda desenhada, alguma da qual inédita, e de ilustração editorial, menos ou mais próxima de colaborações textuais ou de companheirismos jornalísticos, dá também conta da própria exploração do artista. Em primeiro lugar, de todos os aspectos representativos, temáticos ou narrativos do que lança no papel, onde se conseguem vislumbrar pequenos fantasmas recorrentes a aliar trabalhos bem distintos (ecos de influências primárias revisitadas, o isolamento da figura, a teatralidade da iluminação noir, a violência indizível e mortífera sob o fino verniz social). Depois, a lavra da própria tinta na superfície, em que a destreza magistral do pincel e daquela particular matéria escura se mascara numa aparente facilidade do desenho. Finalmente, a talvez menos visível mas contínua, em toda a sua obra, criação de séries e uniões estilísticas.

É papel do visitante, então, ser o viajante-cientista deslocando-se cada vez mais longe na noite de Abranches, aproximando-se da matéria que mancha o papel para chegar à matéria que dele se desprende e adensa e agrega o seu universo.

 

(texto de apresentação da exposição que ficou patente até 30 de Abril de 2018).