Porto 1975
Conta que os seus pais, acreditando pia mas amorosamente nas suas incapacidades para tudo o resto, viram na Escola Artística Soares dos Reis o antro onde pudesse fazer uso da sua única capacidade: mexer com as mãos de modo que deixasse de lhes dar cabo da cabeça.
Foi aí que sentiu o primeiro gostinho pela escola e também onde se deixou perder ligeiramente na vida boémia, culminando tudo nas drogas leves, nas orgias suaves e nas primeiras positivas acima de 10 a português.
Um dia, estando a braços de ferro com matemática, perdendo copiosamente numa cena muito dramática, recebeu um telefonema de um telefone público que a levou ao Estúdio de Animação Filmógrafo. Para além de acudir as cheias da cave, matar baratas, dançar em coro e ter ataques de riso às 4h da tarde, coloriu a preto e branco o filme “estória do gato e da lua”, de Pedro Serrazina, cujo papel não se ficou pela realização desse mítico filme. Um dia o Pedro lembrou-se e disse “olha, acho que devias deixar A Turma da Mônica e já experimentavas o The Whatchmen. E, de repente, num zoom in muito acentuado, toda a perspectiva da vida mudava de eixo.
Acenando até já ao Porto, teve uma curta mas essencial passagem por Turim, no estúdio de animação Lanterna Magica, no que é ainda a sua única participação numa longa metragem de animação e onde privou, uma a uma, com as cidades de Italo Calvino. De regresso a Portugal, ao seu predilecto arroz carolino e ao Filmógrafo, realiza duas curtíssimas para o programa Jardim da Celeste e depois já é de noite e tem de ir dormir. Em 2006, vendo-se acordada de manhã apenas com uma nova gravidez no ventre, ingressa na ESAP-Guimarães, no que seria a primeira licenciatura em Artes, Banda Desenhada e Ilustração em Portugal e onde encontra mestres que a marcarão para o resto da vida.
Nos entrementes dos filhos por acudir e dos trabalhos de animação, seja para autores afamados, seja para o comércio local, junta-se à Oficina Arara, que lhe revela novas e belas entranhas artístico-comunitárias. É co-fundadora do pasquim satírico pró-lírico Buraco e aí se promiscui com alguns dos mestres do parágrafo acima.
Em felizes parcerias com artistas, encenadores ou leitores furiosos, participa em coisas da escrita. Daí nasce um novo e despreocupado amor.
Aos poucos, na BD, usando nomes fictícios porque o nosso nome lembra sempre as penitências a que obrigam as asneiras, lá vai aparecendo em publicações que incluem a Carne & Osso, Cão Raivoso e na mais recente antologia Quem É Que Tu Pensas Que És. Fora isso vai fazendo, que é como quem diz, vai adiando fazer mais, porque o tempo, sempre o tempo e a animação, sempre a animação, onde o rabo se assentou há tanto.
No entanto, o gosto e o desejo de espremer desenhos para dentro de quadradinhos, nunca esmoreceram. O objectivo é poder usar o pseudónimo Ramalho Eanes, que é um nome do caracinhas. Ou Iládio Clímaco.
Cruzamentos
N/A
Links de Interesse
N/A